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sábado, 23 de abril de 2011

O que me inspira

Ao deparar-me com a ideia de escrever sobre algo – ou alguém – que me inspira julguei ser um trabalho fácil, crendo que encontraria logo um foco para começar a minha dissertação. Porém, quando comecei a, de fato, organizar as ideias, descubro que não posso ser simplista em me deter a apenas uma direção, pois eu, em minha composição, não sou simples. Assim como ninguém o é. Eu, por mim, opto sempre por mais de um caminho para elaborar um pensamento, uma ideia, um trabalho. Para encarar um desafio não agiria de forma diferente. Esse texto, para mim, está sendo encarado como um desafio.

Ter o poder de construir a minha própria bibliografia, no sentido dela me identificar, é, de certo modo, perigoso. Afinal a indicação errada que damos de nós mesmos pode comprometer o entendimento do que estamos dispostos a expor de nós mesmos. Se eu disser que minha inspiração são os militares brasileiros da década de 60, por exemplo, estarei dando uma informação inverídica e você, leitor, construirá sua ideia e me julgará com base numa informação incorreta. Poetas são fingidores, mas aqui não estou me propondo a ser um. Mas o que posso afirmar é que alguns deles são minhas inspirações. Ou algumas obras, alguns de seus “fingimentos”, para ser mais específico. Por exemplo: Almeida Garrett. Quando leio seu poema “Não te amo” posso dizer que ele me inspira a tomar – ou não – determinada decisão em algum relacionamento amoroso. Posso adotar a sua valorização do baixo amor sem haver uma depreciação de um amor sublime e, assim, entender que nem todos os relacionamentos hão de existir a necessidade de um endeusamento do outro. É uma inspiração para me fazer refletir nesse aspecto.

Mas não vivo apenas de romances. Me inspira o corpo masculino, para desenhar. Desenho não é bem o que faço, mais digo ser um rabisco com algum pouco de técnica que, de forma autodidata, adquiri. Esses rabiscos são uma paixão minha confessa, e diferente da grande maioria dos desenhistas – escorreguei novamente para o campo que não domino, o do desenho. Corrijo com “rabiscadores”? – é o corpo feminino e suas complexidades e curvas delicadas e bem torneadas que identificam seus melhores trabalhos, para mim as curvas geométricas de um corpo masculino conduzem a elaboração dessa minha arte. Os traços simples de Carlos Zéfiro enchem mais meus olhos do que a complexidade dos trabalhos de Boris Valejjo – que se inspira na sua própria mulher para a maior parte da sua criação. Seriam, então, os catecismos de Zéfiro uma inspiração para meu hobby?

Não disponho de aptidões musicais, porém gosto e entendo o mínimo sobre o assunto. Sei ler partitura, fiz aula teórica. Mas da música, o que me inspira é a letra. Volto, assim, a falar de poesia, mas dessa vez de forma mais ampla. A música é uma poesia também sonora. A letra lida, interpretada. A música escutada, lida e também interpretada. Toda a teoria que aprendi sobre música se perde quando ouço minha referência de rock, Johnny Cash, cantando “you are my sunshine / my only sunshine / you make me happy when skies are grey” acompanhado de um violão lento, com sua voz de tenor. Ouvindo chego a sentir um vento quente tocando minha pele e a areia batendo em meus calcanhares. Música me inspira a interpretação de sentidos, de como posso receber a poesia de forma sensorial.

Caminhando ainda mais nessa minha conversa sobre inspiração, me vem a mente uma conclusão. Algo que se propõe a resumir o que, de fato, me inspira: pessoas. Venho, então, a concluir que minha inspiração são as pessoas, são as criações que elas são capazes de fazer. Inspira-me ver um bom trabalho realizado, um novo questionamento, uma boa ação sendo feita, um grande ato de companheirismo, uma boa nova ideia, uma releitura de um antigo conceito ou até mesmo a tentativa de mudar algo pelo simples motivo de não estar conformado. O ser-humano faz nascer entusiasmo, ele serve ideias e isso, pra mim, é o combustível que preciso. Mas será que dá para eu interromper por aqui? Porque, veja bem, o ser-humano por si só já é o meu objeto de referência, de guia. Mas o que esse ser-humano produz que talvez seja o palpável para eu colocar embaixo do meu holofote, deixar em berlinda. O ser-humano é capaz de produzir criatividade, e essa produção de criatividade me inspira tanto quanto o tangível gerado. Então, não vejo como possível eu separar a produção do produtor: Eu posso me inspirar porque crio tal como você pode me inspirar pelo que constrói.

9 comentários:

  1. Já te disse que achei esse seu texto FODA, né? rs
    Sério, vc deu um show nesse texto... E olha que o texto nem é impessoal, teve um fechamento tão coerente que agente acaba se identificando de verdade com suas ideias... Adorei, mesmo...

    Um abraço, amigo... até o próximo

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  2. adorei o texto. e assino embaixo.
    pena que hoje minhas inspirações estão mais pra desilusões...

    abraços do voy

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  3. Bru, eu amo a forma como escreve, sabia? é como sentir na pele cada sensação que suas palavras podem proporcionar. Sem dúvida, o seu é um dos blos que eu MAIS GOSTO de ler. ;)

    Bjão!!

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  4. texto lindo!
    lindo mesmo!
    emocionante
    eu não conseguiria falar tão bem do que me inspira, não conseguiria...

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  5. Alguns livros têm prefácio.
    Na verdade, quase todos os que li têm.
    Prefácio normalmente, pelo menos nos tempos de escola, era coisa que a gente pulava. Com o tempo, fui percebendo que, ainda que o livro fosse um lixo, o prefácio sempre era uma parte muito boa, não só por ser bem escrita, como porque conseguia chamar a atenção para o que viria a ser lido.
    Seu texto é isso: mais que maravilhoso, ele consegue ter o dom de cativar, de prender a atenção, de ficarmos com a sensação que vem coisa boa depois do ponto final. Faz com que sintamos vontade de ler mais coisas.
    Mas é um blog. E aí ele acaba. E só nos resta comentar.


    www.meioameioblog.blogspot.com
    UMA FILHA PRA CHAMAR DE MINHA

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  6. Grande Bruno! Pessoas de fato são sempre as nossas inspirações. E, claro, o comportamento delas é fascinante. Bom lr voce de novo. Abraçço e um bom dia!

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  7. Olá menino
    Demorei mas cheguei, estava viajando.
    Adorei o texto, extremamente sensível.
    Bjão

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  8. Tenho q aprender muita coisa com esse cara.

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"frente a uma sociedade e uma linguagem reificadas, o indivíduo afirma dolorosa, agressiva ou humoristicamente sua diferença"
Theodor Adorno