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quinta-feira, 17 de março de 2011

Nós somos autores?

Vou fazer aqui uma reflexão acerca das possibilidades de função/imagem que temos em nossos blogs.

Quando pensamos na palavra “autor” logo nos vem a imagem de um indivíduo sentado em uma mesa redigindo um romance ou texto. Podemos desmembrar essa ideia quando relacionamos o autor ao seu nome, sua obra e ao leitor, e, nessas relações, o autor vai ser aquele que criará um fora de si radical para que possa se realizar na literatura (sim, queridos: Nosso blog é literatura).

O “fora de si”, já experimentado por Kafka (KAFKA, Franz. Carta ao pai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002) de uma forma radical, vai ser o motor para a realização da literatura, já que o autor é aquele que nunca deve deixar-se ser apreendido pelas identificações sociais. Então, se você pensa que pode escrever um romance ou texto construído de suas lembranças, arquivos, viagens ou seus fantasmas, lembre-se que você estará descartando o transporte do pessoal para um sentir impessoal. “Trata-se de capturar não o pássaro, mas seu voo”. Um exemplo bobo seriam as cartas de Mario de Andrade. Nela temos o seu biográfico, mas ao lermos seus poemas vemos uma escrita no campo neutro, sem masculino ou feminino: vemos o seu impessoal.

Mas você pode dizer: “Ah, mas blog é um diário virtual”. E está certo. Mas você abre para comentários, para a leitura do outro. O outro não quer saber da sua vida, ele busca o impessoal, afinal: A vida de ninguém interessa. Essa obsessão pela vida privada, que colore o mundo contemporâneo, serve só pra confirmar o que digo: “a crítica fundamental que deve ser feita ao programa Big Brother não é ao fato dele ser invasivo (nele dá-se antes evasão de privacidade), nem sexualmente apelativo (e daí?), mas de ele, inversamente ao que acredita, não ser capaz de mostrar a vida de alguém.” (Francisco Bosco, carta). Um poeta disse uma vez que as únicas grandes biografias que ele conhece são as de Ulisses por Homero, de Sócrates por Platão, de Dom Quixote por Cervantes... Os verdadeiros biógrafos são os escritores. A biografia, então, é um gênero anciliar, serve como matéria-prima para outros modos de escritas capazes, esses sim, de escrever a vida.

Nossa assinatura nos posts são indiferentes se não levarmos essas questões em consideração. O nome do autor é aquele que bordeja, delimita os textos: ele parte do interior de um discurso para o indivíduo real e exterior que o produziu. O nome do autor não está nem no interior e nem no exterior da obra, mas sim nesse abismo que se expõe entre o autor e a obra, discurso interno e a recepção externa dele. Por isso que poemas adolescentes são tão chatos por serem tão viscerais.

Portanto autor, não importa se você escreve seu nome, se expõe sua foto, se usa um pseudônimo ou se quem escreve é o seu heterônimo, o que importa nas suas postagens é o ambiente em que você está se situando. Um ambiente que há pessoas que o receberão. Você deixa de ser quem está digitando no computador e passa a ser um outro, um autor. Você pode até ser um fofoqueiro que conta a sua vida, mas faça com que a sua vida possa ser a do outro.

6 comentários:

  1. Nossa, cara! Que texto profundo... Sério. XD Bruninho também é cultura, viu? UHSaiuhsiuHASs...

    Bjs

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  2. eu estudo pra isso. só adaptei uma pesquisa pra os autores de blog se encaixarem, se verem representados rs

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  3. Gostei do texto, pq fala de literatura, representatividade, dialogismo... e um monte de coisas legais, que eu adorooooooo. tá salvo nos favoritos,quem sabe até levo pro grupo de estudos dar uma olhada. =p

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  4. olha... quero um poko dessa agua. pq to precisando viu...

    abraços do voy

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  5. eu sempre gosto qndo vc escreve esse tipo de texto, devia escrever mais.

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  6. Seu texto é muito bom mesmo! Acho que você consegue expressar claramente toda a ideia que girou em torno da sua decisão de falar sobre esse tema... uma ótima escolha, por sinal!

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"frente a uma sociedade e uma linguagem reificadas, o indivíduo afirma dolorosa, agressiva ou humoristicamente sua diferença"
Theodor Adorno